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Assexuado

Desde criança, Renan fazia suas escolhas de forma diferente das demais da sua idade. Seus brinquedos eram masculinos, porque dados pelos pais que assim direcionavam seu gosto. Mas como tinha uma irmã mais velha, ele se via, constantemente, atraído pelas bonecas e outros acessórios dela. E, quando podia, gostava de ali ficar com aqueles objetos que o tornavam mais sensível e feliz. As amiguinhas da irmã também o agradavam, mas não no sentido de algum estímulo de atração física. Eram afinidades existentes e confortável estar nesse meio.

O tempo passou, a adolescência chegou, e o período que deveria aflorar as escolhas para o outro sexo não aconteceu como era normal e esperado. A expectativa de quem estava ao seu redor não se concretizava e ele começou a ser cobrado de algo que não lhe fazia falta. As meninas de seu círculo chegavam e desistiam de conquistá-lo. Ficava sempre a amizade em primeiro plano, amor de irmão para irmão.

Os pais, preocupados com a diferença do padrão, encaminharam-no para atendimento psicológico e, as terapias apresentadas não identificaram nenhuma anormalidade no jovem. Renan demonstrava que estava centrado no seu mundo, como cidadão e com os padrões da sua idade, apenas não tendo a atração pelo sexo como fenômeno de suas necessidades básicas.

Os psicoterapeutas deram o diagnóstico aos pais, como sendo um caso de pessoa assexuada, embora fisicamente tivesse os órgãos sexuais normais. As interrogações, aos poucos, foram sendo dissipadas com as explicações dos especialistas e a vida corria normalmente.

Quando a pressão foi desfocada e o rapaz chegava aos 20 anos, uma noite, em uma festa de amigos, e um excesso de álcool levou Renan a um novo encaminhamento. Foi tocado por uma atração irrefreada por um convidado do dono da casa. Um torpor tomou conta da sua cabeça e ele foi, quase que inconscientemente, arrastado ao encontro próximo da figura altiva, máscula e ao mesmo tempo dócil e frágil. Uma onda arrastou os dois para o terraço e ao clarão da lua o destino pregou uma nova peça nos diagnósticos apresentados até então. Renan tinha encontrado o seu caminho, naturalmente.

Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"