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Ato Consumado

 

As pedras rolavam sob os pés úmidos e sensíveis. Em passos inseguros tateavam o chão, indo como um robô em busca do improvável. Sem foco no raciocínio, a direção era pura emoção.


O encontro fora marcado num misto de querer e não poder. Mas ela esperava que até o momento da ação encontrasse os parâmetros da impetuosidade. Mas nada, continuava deletéria.


Sorte arriscada, corpo presente. Sem retorno naquele momento. Ele já estava lá, à beira da praia, próximo a um barco tosco. A noite surgia e os últimos raios de sol faziam um contorno no corpo de Adélia, como um desenhista esboçando sua criatura em pose de musa. A aproximação acontecia e o rastro na areia deixava o registro do pecado. Mas não haveria volta. Timidamente, o cumprimento de mãos e um beijo no rosto. A brisa do mar balançava o vestido flutuante acompanhando o movimento dos cabelos num sentido único.


O fôlego no ar e a voz emudecida. De ambas as bocas, que agora já brincavam de pegar lábios, línguas, dentes, céu da boca. Era um céu igual ao que tudo via de cima como testemunha do desejo que ora explodia e era saciado. Desejo guardado de muitos anos, de muitas noites, de muitas praias desertas, na contramão dessa agora consumada.


Tudo como imaginado, sonhado. Por fim, um banho no mar de águas claras, levando o gozo nas ondas e ao além. Quando tudo ficou mais calmo e a noite caiu com seu negrume, Adélia veste seu manto e deixa seu amor para sempre.


Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"

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