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Virgínia era uma garota de programa, que conseguia seus clientes em eventos de médio e alto níveis. Era favorecida pela natureza, pois embora tivesse seus 36 anos, como se costuma dizer, estava com tudo em cima. Corpo bem torneado e tratado, vivia cuidando desse patrimônio que lhe rendia o ganha pão. Seu rosto não era tão perfeito assim, mas com os peelings e os tratamentos faciais, cabelo bem cortado e sempre com a tintura no melhor padrão, seu semblante era agradável e de chamar a atenção.
Com esse perfil não era difícil arrumar parceiros para uma noitada, além de outros que repetiam a dose, havendo uma agenda de reencontros, os quais ela priorizava, na medida que eles se apresentavam com bons hábitos, educados e limpos, item que ela não dispensava. Dava-se ao luxo de escolher.
De todos esses já conhecidos havia um, o Arnaldo, que mexia com ela. Ela sabia muito bem que a emoção, a paixão e o apego deviam ficar de fora de seus sentimentos. A sensualidade, sim, mas somente como forma de atrativo. Mas reconhecia que Arnaldo era especial. Ele, por sua vez, embora casado, vivia uma relação conjugal muito conflituosa e, vez por outra, arrumava um jeito de descarregar com Virgínia.
Situações diversas tinham os dois: ele tendo uma mulher e querendo encontrar satisfação com outras. Ela, tendo vários homens que lhe davam muito prazer, mas faltava alguém que pudesse falar de si, de suas indagações e problemas pessoais. Nesse particular, Arnaldo não se importava em ouvi-la falar, entre uma transa e outra. E até ele mesmo fazia também suas confissões nesses intervalos de relax.
Sentiam-se presos por alguma coisa que não era somente o desejo sexual. O corpo era essencial, mas uma carência aflorava de ambos e encontravam bom esteio nesses encontros. O vínculo da confiança cada vez mais fortalecido, com o passar do tempo.
Numa dessas noites, ao chegarem ao ápice do gozo houve uma explosão de choro. Ela, deitada com a cabeça em seu peito, ainda sentindo as suas vibrações e ouvindo as batidas aceleradas do coração, teve vontade de lhe rasgar o peito e comer esse órgão, de uma forma muito simbólica. Ficaria com ele para sempre e somente ela teria o domínio de suas emoções.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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