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Erotismo Mitológico

 

O Rei Baco, num período muito distante e habitado por deuses, realizava festas homéricas regadas a vinho da melhor qualidade e trazia as bacantes para o centro da mesa dos prazeres. Os sexos eram lambidos depois de devidamente pontilhados com gotículas do líquido de Dionísio. Os poucos convidados para esse bacanal, privilegiados que eram, recebiam as pulsações de Afrodite e todo o banquete se transformava no mais puro enlevo afrodisíaco, tendo a ambrosia como prato principal.

 

Vênus, por seu lado, e na tradição romana, da mesma forma que Afrodite, levava os homens aos píncaros do desconhecido e dos prazeres carnais, empunhando véus e outras insígnias simbólicas para expor sua beleza.

 

Eros a tudo espreitava e jogava suas flechas, como instrumento maior de um mito, colocando frente a frente homens e mulheres ou mesmo grupos do mesmo sexo. Não importava essa censura. Era o momento erótico que estava em jogo e fazendo cumprir as determinações dos deuses. A flecha de Eros podia ser comparada com um falo atirado para atrair as presas.

 

As musas inspiradoras e seus cantos eram como personagens de segundo plano, mas, como toda confraternização que se presa, não podiam deixar de existir. Elas clamam e declamam poemas. Esse ritual do canto é tal qual um mantra repetido e que toma conta dos membros da cena e tudo se encaminha para o ápice divino e coletivo, onde identidades são esquecidas e respostas são deixadas de lado.

 

Em meio ao ritmo e ao calor do vinho, dois seres até então desconhecidos se aproximam. O impossível acontece e o poderoso Zeus, Deus dos deuses, derrama sua força visceral sobre Ártemis e a simbiose explode num enlace irracional de paixão. Ela, caçadora, também decide sobre o que comer. Os convivas param e se concentram na coreografia dos corpos, até chegar ao desmaio e ao sono profundo.

 

Como acontece nos bacanais, as vozes dos corais vão voltando ao canto e outros deuses vão buscando seus pares para uma nova exibição de prazer compartilhado, até que surge Atena, filha de Zeus com Métis. Por ser guerreira, ela levanta-se em defesa de sua mãe e desperta Ártemis cobrando-lhe uma resposta. Evoca, ainda, seu irmão Ares, também guerreiro, para uma decisão familiar.

 

Nessa luta de poderes, onde o que vale é o prazer da vitória e da conquista, Zeus carrega Ártemis nos braços e se lança no espaço para uma nova viagem, indo ao encontro de Apolo, em busca de sua luz e seu sol.

 

Das lições, vindas de além e de longe, os poetas de sempre e de hoje se deparam com essa matéria prima do ser, na pessoa de si mesmo e surge a figura máxima do filósofo Sócrates como interrogador do mundo, à luz da razão, como se amor, ódio, paixão, sensações fossem manifestações menores. Platão deu pistas para um amor à sua imagem, o amor platônico, onde o desejo do conhecimento leva ao contato das paixões, sem nunca deixar que tome conte de si mesmo. Não será nunca nesse contexto uma paixão carnal, corporal.

 

E o poeta, o que faz ? Filosofa sim. Pensa também. Mas ele é muito mais fruto do inexplicável, do non sense, do prazer, da interrogação, apegando-se à lua e ao mar, não cientificamente, mas para ir de carona no seu rastro rumo ao desconhecido. O poeta é mito, muito mais do que filósofo. E quando tudo descobrir não sobrará mais nada. O sonho é sua meta.

 

Distante desses tempos longínquos e mais perto de nossas civilizações, uma figura poética encarna bem o contraponto da filosofia e da razão para se lançar em uníssono com a mitologia: Fernando Pessoa já dizia que "navegar é preciso, viver não é preciso", considerando que voar, dar asas à imaginação é muito mais necessário do que viver.

 

Os deuses, assim como os poetas, estão aí para nos ensinar as artes do amor e para tirarmos os pés do chão, como que levados por Ícaro.


Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"

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