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Alguns homens nascem e se preparam para assumir o posto de machos, na mais pura acepção da palavra, como os mais antigos chamavam de Don Juan e conquistadores.
Coitadas das mulheres que tinham o azar de cruzar o caminho de um "bico doce" como esse. Conheci quatro que caíram nas lábias de um sujeito com esse perfil. Todas foram prisioneiras do mesmo galanteador. Essas foram somente as tornadas públicas e que conviviam em ambientes próximos. As outras, sabe-se lá, quantas não foram!
O mais interessante de tudo é que o sujeito não tinha sido abençoado por Deus em dotes de beleza estética. Era gordo, disforme, com barriga proeminente e, nas últimas conquistas que se teve notícia, já passava dos cinquenta anos.
A primeira que foi fisgada por seu olhar e sua conversa mole foi a que lhe deu filhos e foi levada ao altar. A relação oficial teve pouco sucesso, pois ele não podia ver uma saia e a pobre coitada da mulher cansou de ser colocada em segundo plano.
A próxima, uma mulher bonita, jovem, inteligente e bem situada profissionalmente caiu na rede. Poucos acreditavam no que estavam vendo e o privado, tornou-se público, para espanto geral. Aí passei a entender melhor esse homem e analisar suas artimanhas. A conversa era seu forte, a paciência sua maior qualidade. Esperava a hora certa de dar o bote fatal, sem pressa.
Como distração gostava de jogar pôquer e acho que vinha daí a sua estratégia de ir armando seu campo de batalha, até o momento do primeiro tiro. Era a hora que percebia que a presa estava dominada e que não haveria resistência.
Essa segunda relação até que teve uma duração relativa, mas uma colega de trabalho dele começou a incitá-lo a um novo combate e ele não era de desperdiçar oportunidade e era preciso colocar em prática as suas táticas ferozes. Conseguindo o objetivo, a outra descobre que estava sendo traída e larga mão, com muito sofrimento. Demorou a se refazer.
O rapaz parecia estar acomodado, finalmente. A nova mulher era sem graça, sem dotes e aparentemente sem nenhum atrativo. Mas era oriental e talvez tenha sido essa dedicação de mulher submissa que lhe cativou. Mas era apenas uma questão de tempo, até que alguém novo se colocasse à sua frente e o fizesse destilar o seu desejo de ataques e recuos, enganando a presa.
E aí entrou uma nova tentação. Fiquei sabendo dos detalhes dessa história. O homem perturbou a moça, depois de conhecer sua história de carência amorosa, de idas e vindas de uma casamento tumultuado. Passou a frequentar sua sala de trabalho, comentando coisas, jogando indiretas, exibindo conhecimentos. Ela, a princípio, por já conhecê-lo, não atinou para seus objetivos. Aos poucos, inconscientemente, foi percebendo que se arrumava, logo pela manhã, pensando no que ele acharia de seu traje, do seu olhar, do seu baton. E ele comentava, às vezes, criticando, e ela ficava de mau humor. Convidava para tomar café junto com outros funcionários, mas sempre jogando encantos. Isso demorou cerca de um ano.
Um dia, no encerramento do expediente, ele sabia que o campo estava pronto para a palavra mágica. Esperou todos saírem, ficou na escada para vê-la passar e, numa investida brusca, sapecou um beijo na boca. Como bom jogador, ele sabia que tinha vencido o jogo e daí foi um passo para os encontros de corpos e de moteis.
Segundo ela, passado o período de loucuras amorosas, tinha consciência que o homem era um diabo em forma de gente, dominador em todos os atos, frio e carinhoso ao mesmo tempo, sempre querendo vencer as paradas. De tirar fora do sério, de perder o rumo e cercando a "inimiga" para novos ataques. Por outro lado, reconhece que nunca foi tão mulher e tão solta na cama.
O mais hilário é que sem o seu domínio e livre dos tentáculos dele, ela reconhecia que a primeira vez que apreciou o homem sem roupa não acreditou e teve vontade de rir. Mas estava como que anestesiada e, mesmo agora, depois de tempos, ainda se arrepia de pensar nele e chega a sonhar com situações eróticas. E concluiu em seu desabafo: "esse homem é o cão, animal selvagem, vampiro que suga suas vítimas no limiar da noite. Salve-se quem puder! Outras tantas devem estar em sua mira, até acabar seu fôlego"!
Coisas que a humanidade não explica.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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