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Lembranças...

 

Imaginavas um dia estar diante de meu corpo inerte e nada poder fazer com ele? São os reveses da vida, que a todo instante estão mandando mensagens simbólicas a nos lembrar que somos impotentes.

 

Mas exatamente nesse momento vieram as imagens vividas de tanto apego e calor, quando o universo era todo dirigido a nós. Pensávamos no auge da nossa juventude que as tramas favoráveis davam a ilusão do tudo possível.

 

Agora estás aí nesse mundo que acabei de deixar, mas ainda bastante apegada à carne tua e onde as lembranças sobranceiras desfiam o tempo passado. Como fomos felizes e representantes máximos da paixão e do desejo! Quantas vezes agarraste-te a mim, quase virando um só, respirando o mesmo ar e vibrando na mesma sintonia? Inúmeras e harmônicas, sonantes.

 

Bom que no rosário da saudade haja tanto que lembrar e quase dando vida novamente ao que foi. Teu semblante, talvez, não inspire as mesmas passagens mentais que faço. Pena, pois que mais poderás fazer diante do real duro e cruel? Sonha como eu, mesmo acordado, com a vivacidade minha, com o chegar perfumado do body lotion preferido, das corridas pela casa na busca do outro, nas gargalhadas agudas depois de um bom vinho.

 

Gostavas das minhas saias de babados, bem femininas, só marcando a silhueta na cintura, deixando as pernas à mostra e os pés de saltos altos e finos. O colorido das roupas misturava-se ao rubor das faces e ao brilho dos olhos vivos, quase esverdeados. Tudo estava programado para te encantar.

 

Foram anos a fio de conquistas, de renovação de interesses, de sedução. Nada podia abalar a nossa afeição, o desejo pelo outro que chegava até pelo cheiro do sexo. Pena que não fiz mais, que não comi mais a tua carne e que não bebi tanto o teu sêmen.

 

Quanto este corpo foi teu e como ele te falou de segredos e sussurrou mensagens de paixão no auge do encontro! Não fica assim, elimina o que vês de concreto e vive em outros tempos. Eu, de minha parte, não queria essa farsa, a formalidade do adeus. Não me olha desse jeito, como se de fato estivesse morta.

 

Olha, estou do teu lado, mas invisível. Sei que não podes me ver, senão na situação inerte. Mas espero que percebas que será melhor mesmo mentalizar os anos a fio de felicidade e de alegria. Vira a página. Aliás, pula essa página e volta a ser o que sempre foste: viril, forte e conquistador. Eu estarei recebendo a tua energia para, um dia, repassá-la de volta a ti neste outro mundo.

 

Espero-te, velando o teu caminho e que ele seja salpicado de flores, mesmo com a minha ausência.


Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"

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