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A filosofia que diz que a vida é feita de momentos enquadra-se totalmente na forma de visão de quem não quer saber de muitos compromissos para frente e tem pressa de alcançar algum objetivo. Na área sentimental, então, essa premissa tem sido levado em boa consideração, por uma infinidade de pessoas - homens e mulheres.
As relações estão corridas, interrompidas, fragmentadas. O tempo passa rápido demais e há medo de se perder espaço e prazeres. Não se pode deixar para trás uma oportunidade, que talvez nem torne a acontecer. E mais - será que o melhor seria mesmo a busca do definitivo? Que definitivo, se as relações hoje, ditas formais, estão a durar por pequenos períodos?
Rita pensava em tudo isso, enquanto dirigia seu carro por uma estrada, na ida para o trabalho. Tinha passado por algumas experiências amorosas e uma delas a deixou com marcas que a levaram para o divã de uma psiquiatra. Durante três anos fez análise para tentar entender o que deu errado e onde foi que falhou para a relação ter chegado a um fim abrupto. Ela tinha se empenhado tanto, fora correta, digna, nunca pensara em outro homem nos cinco anos de vivência a dois!
Pois é. Com a ajuda da psiquiatra ela consegui se livrar de uma culpa que nem existia, pois na verdade passou a enxergar que o difícil é viver no dia-a-dia, com todas as rotinas, as dificuldades, os problemas familiares e profissionais. Isso ficou claro para ela, mas Rita vivia sonhando acordada com uma nova relação, como toda mulher saudável. Era nova, nem chegara aos quarenta anos, não tinha filhos e agora era dona do seu nariz com um salário compatível com as suas necessidades. Mas precisava do outro.
Da casa para o trabalho, vivia essa rotina, e era na estrada, durante o percurso, que surgiam os vôos de pássaros. Uma certa manhã, o carro apresenta um problema mecânico na saída da cidade, com tempo certo para parar no posto de serviços próximo. A avaliação do mecânico foi taxativa - "não vai dar para continuar a seguir viagem". De imediato, sem saber o que fazer, liga para o trabalho, avisando que chegaria mais tarde. Pede um orçamento do conserto, fala com o gerente e decide deixar o carro.
Vai para a pista, na busca de um ônibus fretado que leva funcionários de várias empresas da região onde trabalha. Passam dez minutos e ela avista o carro de um rapaz que estava empregado na mesma empresa, mas com o qual não tinha nenhuma intimidade, pois atuava em área diferente da sua. Ele avista Rita e pára. "Está com alguma dificuldade? Precisa de uma ajuda?" Sem saída, ela afirma: - "A única coisa que preciso é chegar ao trabalho; se puder me oferecer uma carona, ficaria grata".
Os primeiros diálogos foram de apresentações mais detalhadas do que faziam e Rita conta o problema do carro. Bruno era seu nome e ele respondia pelo faturamento da empresa. Ela era do setor de marketing, sempre ligado à presidência. A viagem transcorreu rápida demais e Rita lamentou a chegada. A companhia de Bruno e sua presença eram marcantes e ela não acreditou de nunca ter percebido isso, envolta em seus problemas.
No final do expediente, ele se ofereceu para levá-la. Rita tinha até como ir com uma amiga, mas não quis recusar. Saíram e, antes de chegar ao centro da cidade, ele perguntou se ela aceitava ir a um Happy hour. Naquele momento, ela decidiu pôr em prática o que vinha pensando a algum tempo - viver o momento.
O lugar era movimentado, com música e as pessoas estavam alegres. Ela resolveu entrar no clima e mostrar o seu melhor. Ele correspondeu e as coisas ficaram menos formais. Passaram a falar de filosofia de vida e das maneiras de se buscar a felicidade. Tudo muito descontraído e sem qualquer expectativa. Na mesa ao lado, um aniversariante convidou os dois para unirem-se ao grupo. Rita há muito que não se soltava assim e até ensaiava uns olhares com outros rapazes da mesa.
Ela parecia mudada e gostava do que se passava. Bruno falou ao seu ouvido, porque o barulho era grande e ela sentiu um arrepio de prazer. Ele percebeu e a abraçou. Em outros tempos, Rita iria repelir aquele impulso, mas foi adiante, com olhares de interesse.
Pediram mais bebida, mas sua decisão era consciente e de lucidez. Não era o álcool que dirigiam suas ações. Lá pelas tantas, despediram-se dos novos amigos e saíram abraçados do bar. No carro, o beijo selou aquele encontro inesperado da manhã.
Aconteceu o que os dois queriam - a chegada ao Motel mais próximo. Sem pudores e medo do amanhã, entregaram-se e Rita nunca foi tão feliz num ato sexual. Aquele momento era novo, diferente, intenso, mesmo que não tivesse intensidade no futuro. Em sua cabeça não passava nada mais que ser mulher, sem medir consequências. Aliás, estava se livrando desse jeito certinho de ser, que tanto vinha atrapalhando a sua vida e tornando-a angustiada.
Foi bom e, antes dela descer do carro na porta de sua casa, beijou com carinho os lábios de Bruno, agradecendo por sua libertação. Era, a partir daquele dia, a comandante de suas ações.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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