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Olhei na linha do tempo, no apagar das luzes do ano que findava, e vi teu rosto emoldurado, olhos vivos e verdes a abrir o novo ciclo que se anunciava. Foi a melhor imagem para começar uma vida em renovação. Apostei na força desse sinal como energia para tomar a decisão.
A vida vinha enrolada, sem destino e muitas fugas. Sabia que nada vinha bem com o relacionamento conjugal, sempre adiando uma reviravolta. O medo tomava conta de mim e não sabia como dar essa guinada e partir para outra. O casamento de dez anos tinha estacionado naquele ponto em que nada acontecia, nada trazia vibrações e alegrias. E as cobranças eram cada vez maiores. Nesse estado de coisas, os olhos verdes se cravaram em mim e passei a sonhar com a dona de tão lindos acessórios do rosto.
A primeira aparição foi na passagem de uma linha do metrô, em caminhos cruzados e desencontrados. Apurei o horário e no dia seguinte me transportei para o outro lado. Nada aconteceu e na sequência da semana também. Já esquecendo daquela luz, numa audiência no Fórum, por motivos de trabalho, eis que fica diante de mim, na qualidade de advogada, aquela mulher-olhar. Fiquei mudo e, recobrando a fala, me apresentei.
A audiência teve desdobramento e numa nova data, aquele encontro de arrepiar. Será que estava apaixonado, como um adolescente? Feitas as tratativas profissionais, todos saíram para um café e foi quando tive a chance de uma aproximação, mas muito discreta, aliás nada sabia sobre sua pessoa.
Passei a frequentar mais o Fórum, mas os encontros não aconteceram. Cada vez mais via como distante a minha relação com minha mulher e sempre colocando em seu lugar os verdes olhos. O tempo correu e numa ocasião, em festa de amigos, vejo-a com um namorado e eu também acompanhado. Cumprimentamo-nos e começamos a fazer parte de um mesmo grupo de conversas e veio a confirmação que era a minha eleita. Senti que também se interessava por minhas colocações e pensamentos.
Na hora das despedidas, trocamos telefones com discrição e o encontro, não casual, mas programado, aconteceu. O local foi o apartamento de um amigo, para ficarmos longe dos olhos alheios. Só queria olhar os seus olhos, lindos, claros e irradiantes, aos quais beijei com carinho e paixão.
Mais em ebulição fiquei depois desse encontro e o que era dúvida e medo se transformou em quase uma certeza do que fazer. Mas foi naquele instante do limiar do novo ano que chegava o momento de ter aqueles olhos para mim.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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