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Nasci frágil, miúda, empurrada para o mundo sem que nada tivessem me falado. Minhas referências genéticas eram de submissão e dependência. Fui olhando ao meu redor, ouvindo os sons, sentindo o tato, o gosto e começou o aprendizado. Meu universo era restrito, porém com uma carga a ser explorada, expandida e conquistada. Assim, não me dei por satisfeita com o que tinham programado para mim.
Os primeiros passos, as primeiras falas e a certeza do que me agradava e interessava. Rebelei-me. O que era para ser uma menina tranquila e passiva, seguindo os passos maternos e das irmãs, acabou por apresentar um desejo de vôos altos e sem rasantes. De fato, queria passar para uma outra ordem, de liberdade de pensamentos e ações.
Entendi, nos primeiros anos de estudos e em contato com pensadores universais, que a individualidade de cada um pode ser preservada, a despeito de termos a comunicação bastante praticada com os semelhantes. Era um trabalho de criação do meu eu mulher, cheio de sensações voltadas para atividades que causavam prazer - lúdicas, culturais, intelectuais e corporais.
Formei, a partir desse momento de maturidade, a minha linha de trajetória e universo pessoal, onde entravam valores como descrença de dogmas, desprezo pelos princípios pré-estabelecidos e determinismos psicológicos. Floresci entre campanas verdejantes, pássaros vorazes, borboletas aventureiras. Meu mundo era de sonho, mas com vistas a ser concretizado.
Mulher com graça, olhar de conquista, gestos femininos e desejos...todos. Como toda fêmea, germinei. A formação profissional era importante e, com garra e determinação, também cresci.
Mas não bastava. O tempo corria e aquela menina ainda tinha muito para se lançar à vida. Queria novos amores, sentir corpos, sensações e conviver com outras pessoas, não podendo ficar retida a uma única. Agora sim, aos quarenta, sabia o que queria como ninguém e o instinto desbravador veio à tona. Era o momento das sedas, perfumes, roupas atraentes. O cuidado com a silhueta e a pele estava na pauta. Mas, muito mais, de se sentir interessante ao próximo, galgando palmo a palmo seu campo de batalha.
A natureza deu a sua contribuição. Os elementos como água e terra refletiram forte nesse útero, ainda sob a luz da lua que trama a favor do feminino e dos segredos mais recônditos, qual fruto a ser descoberto e revelado. O fenômeno da criação acontece ininterrupto, havendo sempre um espaço a ser conquistado.
Esse perfil talvez seja da Mulher desse novo tempo, que não se satisfaz apenas em ser mãe e esposa, mas ser gente - com sonhos, desejos, conquistas, liberdade para dizer o que pensa e o que quer. Fazer suas escolhas ao longo das trajetórias, inclusive na condução da vida sexual, sem se submeter eternamente ao que o homem sugere como prazer.
Aquela criança/menina/mulher continua lutando e aprendendo e, quem sabe, fazendo acontecer ao mudar o rumo das coisas a cada nova experiência. Considera que atingiu uma fase de plenitude, mas aberta a novas descobertas. O princípio é ser mulher com ônus e bônus, sempre. Forte, sem perder a delicadeza. Determinada, sem se vulgarizar.
É bom sentir-se mulher e ter orgulho da sua condição!
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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