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O Carnaval explode na avenida. Ritmo, cores, movimento e um desejo ardente de extravasar energias.
Renata preparou esse momento para viver o que ela chamava de magia e de deixar acontecer, seguindo as batidas do tambor, fazendo coro com o coração. Nem bem o ano anterior tinha terminado e ela já buscava definir a Escola de Samba que desfilaria na Marquês de Sapucaí. Depois de algumas visitas às quadras das agremiações, ficou a dúvida entre três. Resolveu sair em duas, que não coincidiam no mesmo dia de apresentações - Mangueira e Portela, ambas tradicionais e ganhadoras de muitos prêmios.
A partir daí, começaram os ensaios e a preparação das fantasias, escolhendo as alas. Morena de olhos verdes, uma mistura de pai branco e mãe mulata, logo foi a atração nova entre os homens. Ela não era das mais liberais, mas decidiu não racionalizar suas atitudes e cair na folia de cabeça, de pés e de requebrados.
O mês de janeiro entrou e a pauta da sua agenda eram as duas escolas, cuja presença era constante nos ensaios noturnos, em dias alternados. Passos do samba, coreografias, letras das músicas títulos foram sendo incorporados, até que chegou o início de fevereiro, quando as coisas esquentaram para valer.
Renata sentia-se em casa e, em especial na Mangueira, que venerava desde criança, um interesse a mais surgiu. Um dos diretores começou a fazer-lhe a corte e ela foi aceitando os galanteios e jogando charme para ele. O tesão era redobrado e sua paixão pelo Carnaval teve contornos ainda mais sensuais. O suor dos corpos ao final de um dos ensaios foi misturado, quando em um dos cantos da quadra eles de aproximaram e se esfregaram. Não dava mais para arrefecer aquele fogo, que foi sendo aceso de leve e à base de muito rebolado e olhares profundos.
Mesmo estando o desfile marcado para a noite seguinte, Renata e seu diretor não quiseram adiar o que começava com tal sofreguidão. Saíram de fininho, depois dos acertos para a noite que seria apoteótica. Ele era um negro de fazer
inveja a qualquer mulher: grande, forte, voz rouca, olhos dourados e mãos que sabiam pegar e acariciar.
O ato foi consumado como era de se esperar, mas indo além das expectativas, parecendo que ele usava o ritmo do samba para embalar as suas entradas no sexo dela. Era como um carro alegórico que rasgava a avenida e se reverenciava com o público. O tremor veio, a gritaria atrás e, mesmo sem nenhuma fantasia, a festa de Momo de Renata tinha sido consumada e antecipada.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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