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Uma Nova Mulher

 

Karina era uma mulher de meia idade, casada há mais de 15 anos e com muita energia e vivacidade. Renato, seu marido, posava de machão e cheio de preconceitos, mas que ela já se acostumara ao longo da vida a dois. Isso não queria dizer que ela aprovava suas posições e idéias sobre as relações homem/mulher. Como as mulheres de seu tempo, ensinada que foi pela mãe, isso não era o mais importante. O homem tinha que ser honesto, bom pai, trabalhador e honrar a família. Ponto final. O resto era perfumaria.

 

Desse casamento nasceram três filhos, todos feitos do modo papai e mamãe, dentro dos princípios tradicionais, sem arroubos de prazeres. Ele, lógico, pela sua filosofia, tinha sempre que se satisfazer, mas mesmo assim, sem grandes manifestações e posturas novas na cama. Vai que os filhos acordassem e ouvissem alguma coisa !

 

A rotina do casamento corria solta e ambos acreditavam que era a família perfeita. Renato tinha um emprego de alguns anos e bem remunerado, casa própria, carro e uma pequena viagem, pelo menos uma vez por ano. Renato não admitia que Karina trabalhasse, dizendo que não havia necessidade. Até que um dia ele sofre um acidente e passa por um longo período de tratamento, impossibilitando o retorno ao trabalho.

 

As contas iam se acumulando, os medicamentos caros e é quando ela resolve procurar alguma atividade que lhe possa trazer algum ganho. Os filhos, já adolescentes e bem resolvidos, não exigiam tanta atenção da mãe. O marido, ao saber da decisão da mulher, quase tem uma recaída. Ela prova que não havia outra alternativa e que seria só pelo tempo da sua recuperação.

 

Formada em Direito, mas sem nenhuma prática, vai em busca de uma amigo da família, um advogado de renome na cidade e que tinha um dos escritórios mais bem montados. Ela pede uma entrevista com ele e explica que precisava de uma vaga, mesmo que fosse de estagiária, a princípio. Eduardo de Siqueira, nome pomposo, combinava com a elegância e educação desse homem afinado com as leis. Ele parece entender a situação precária de Karina e concede uma oportunidade, para começo imediato.

 

Ela fica muito feliz e vai para casa para relatar tudo ao marido e aos filhos. No dia seguinte, estaria a postos no escritório. Começa por encaminhar os processos aos vários advogados, fazer pagamentos nas agências bancárias, agendar as datas das audiências e, aos poucos, se familiarizando com as lides advocatícias. Com toda presteza e dedicação.

 

Era outra mulher! Passou a ser mais vaidosa, ganhou auto-estima, aprendeu a se relacionar com as pessoas e agradando a todos os colegas de trabalho, em especial Eduardo. A doença do marido, que ainda exigia cuidados, perdeu o seu foco de atenção. De repente, Karina percebeu o quanto tinha perdido da sua vida.

 

Ao completar nove meses, o marido tem uma melhora e recebe alta para retornar ao trabalho e acha que Karina vai retomar a vida de outrora. Nesse momento, ela se posiciona e faz prevalecer a sua decisão de continuar no escritório, pois não se imagina mais retrocedendo no tempo. Consegue um contrato de trabalho, desta feita como assistente de Eduardo de Siqueira.

 

As relações entre ambos ficam mais estreitas e passa a haver uma empatia. Um dia, Eduardo comunica que um novo cliente deveria vir ao escritório para acertarem sobre um contrato e que um almoço selaria o acordo. O vinho espumante servido nas refeições e as conversas, embora de negócios, muito elevadas, levam Karina a se transportar para um mundo que nunca havia experimentado, com dois homens maravilhosos à sua frente, num restaurante de classe. Ao final, o café e as despedidas do novo cliente, depois de formalizarem os acordos.

 

Nesse exato momento, ela se vê sozinha com Eduardo, que se prepara para abrir a porta do seu carro para que ela entre. Há um esbarrar de braços e Karina sente um calafrio que corre toda a sua coluna. O perfume que ele usa, sentido de perto, a deixa mais estonteante. O percurso para o escritório tem início e é quando Eduardo coloca um CD com os boleros de Luís Miguel. Tudo se embaralha e ela não sabe mais discernir o que é real ou ficção. Há muito que vinha sonhando com aquele homem gentil, inteligente e educado e, de repente, estava tão próximo das suas mãos.

 

Num fechamento de sinal, ele dirige o olhar para ela como querendo falar alguma coisa e toca a sua mão. O arrepio agora tomava o corpo todo e ela sabia que se ele insistisse ela se entregaria de corpo e alma. Mas foi cauteloso e logo chegaram de volta ao escritório.

 

Naquela noite, ao invés de sonhar com ele, a insônia tomou conta e as sensações pareciam se concretizar na vida real. Não sabia mais o que poderia acontecer. Olhava para Renato e não via senão um homem sem nenhuma expressão, mais um amigo e companheiro do que um macho. E não se sentia culpada pelos seus sentimentos e sensações, que pulsavam mais do que nunca, como sendo tudo muito novo. E se preparou para o que viria.

 

Eduardo não chegava e, depois de um telefonema, ficou sabendo que ele viajara por três dias. Foi quase uma decepção para seu coração ansioso. Tratou de trabalhar e esquecer a sua ausência. Na próxima semana haveria de revê-lo. Até lá, mais sonhos. Uma noite, ela acordou gritando e suada depois de senti-lo em seus braços e entre suas pernas, ouvindo palavras de amor. Renato achou que ela passava mal e queria saber o que acontecia. Voltou a dormir e mais pensamentos eróticos.


De volta à realidade, o reencontro dos dois foi na cozinha na hora do café. De pé, Eduardo chegou-se bem perto de Karina e disse que fizera a viagem para pensar e refletir sobre o que estava acontecendo entre eles. Ela corou, emudeceu e voltou para a sala. Durante um despacho de documentos, a convida para almoçar num lugar privê. Ela sabia que era o que mais queria, mas hesita por alguns instantes. Depois concorda.

 

O local era um flat de sua propriedade, todo bem decorado e com almoço servido na ante-sala de acesso ao quarto. Ao se depararem frente a frente em quatro paredes, a comida fica esquecida e, a partir daí, Karina toma contato com prazeres nunca dantes conhecidos. Aquele homem era ao mesmo tempo delicado e animal com ela. Cada peça de roupa tirada, era como uma introdução ao mundo da sensualidade e ia se libertando dos princípios enraizados de tantos anos.

 

Ficou como louca, enlouquecida, delirante com a paixão inesgotável daquele macho, que nada tinha de preconceitos. Foi virada do avesso, teve iniciativa de pegar em seu órgão, beijá-lo, cheirá-lo, chupá-lo, pois era o símbolo maior do seu prazer. Por outro lado, Eduardo falava-lhe coisas que nunca havia imaginado, usando de todas as artimanhas e fetiches nas artes do amor.

 

O seu gozo foi intenso e completo e, pela primeira vez, sentiu-se mulher com M maiúsculo. Sua felicidade extrapolava por todos os poros e Eduardo sentia isso com nitidez. A paixão era mútua e para brindar o momento mágico ele serviu o mesmo vinho frisante que tinham tomado naquele almoço marcante. Algumas gotas borbulhantes ele deixava cair em seus seios e sorvia com volúpia, até chegar no meio das pernas e se deliciar com a mistura do perfume vaginal.

 

A tontura de Karina ia além da dosagem alcoólica, pois o que estava acontecendo era o pleno delírio. Ela não era mais mãe, esposa, dona de casa, nem advogada. Era a fêmea das fêmeas, a sua única identidade naquele apartamento. Para completar, ele levou-a ao banheiro e fizeram mais uma vez amor em uma banheira de espuma, com os sais mais aromáticos.

 

O tempo parecia suspenso, mas corria célere, contrariando o desejo dos novos amantes e, como inimigo, anunciou que já passavam das quatro da tarde. Uma pausa de lucidez e eles caem na realidade, resolvendo que deveriam voltar ao escritório, não sabendo com que cara lá chegariam. Já eram mais de cinco horas e, graças a isso, os funcionários tinham terminado o expediente, havendo somente a faxineira.

 

Ela sentou-se em frente à mesa de Eduardo e seu olhar era doce e terno. Nada temia daquela relação, se seria duradoura ou breve. Seus planos agora eram um só - se dar ao luxo de ser feliz e continuar a ser amante, recuperando o tempo perdido. Pelo seu instinto feminino sabia que haveria muitos outros encontros furtivos e cheios de plenitude e que esse dia tinha sido o começo de uma série, sem se importar com os resultados e consequências. Karina tinha encontrado o homem perfeito e todo seu corpo ficara impregnado do seu cheiro e se moldado à sua forma.


Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"

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