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O vinho foi sendo servido. Vermelho da cor do rubi, rosado, mais doce e aromático, branco cristalino como uma fonte. As informações do enólogo eram esclarecedoras e nos levavam a fazer viagens a regiões das melhores produções vinícolas. Fora isso, os toques de como reconhecer uma boa qualidade e a forma de apreciação.
Esse líquido sempre esteve presente, desde os tempos áureos da nossa civilização. Muito mais cercado de um encantamento e volúpia, do que propriamente, como querem alguns puritanos, apenas estabelecendo a sua relação com refeições e sabores. É isso também, mas o seu poder afrodisíaco é mais do que provado. Passar do ponto pode ser um desastre e só quem bebeu demais essa bebida sabe o mal que pode causar, principalmente no dia seguinte.
Os pensamentos iam sendo repassados e somados com os conhecimentos de quem ministrava as aulas. A vontade de saber sobre o assunto de um certo requinte é que me levou ao local. Pensando ainda na questão da sensualidade e dos efeitos causados, oprofessor foi inquirido e com o maior jogo de cintura deu alguns exemplos históricos e bíblicos.
Como pessoa de bom gosto e inteligência, o enólogo tinha ainda como predicados a simpatia e a comunicação, que foi se estabelecendo fácil entre os interessados no assunto. Ao final de cada aula, a degustação de alguns tipos de vinho e até para estabelecer as diferenças era o momento de maior atração. E era quando todos faziam os comentários entre si.
O curso transcorreu por um mês e, ao final, houve a sugestão de fazerem uma viagem ao sul do Brasil, pois havia convite de uma vinícola para grupos de estudiosos. Dos vinte alunos, doze resolveram participar, ficando o evento programado para dentro de um mês e com quatro dias de duração, incluindo o final de semana. Eu estava entre os adeptos. Clima frio, hotel aconchegante, tudo parecia propício para essa experiência.
A visita à vinícola foi bastante proveitosa e até para conhecer a forma de processamento da bebida. E lógico, muita degustação, pois o interesse da empresa era ganhar novos consumidores. Compras foram feitas e tudo deixado no Hotel. Para a noite, uma saída para jantar e dançar. O grupo estava para lá de entrosado e tudo transcorreu solto.
O jantar foi à base de carnes de animais silvestres e o vinho tinto era o que melhor convinha. Assim, o grupo que já gostava um bocado de tomar vinho foi brincando, dançando e bebendo e o fator afrodisíaco logo estava de plantão. O professor enchia o meu copo e falava da felicidade, ele também bastante inspirado. Tirou-me para dançar e o calor de seu corpo incendiou o meu peito.
Gostosamente, ficamos trocando passos e sentindo um ao outro, sem nada falar. Um momento inesquecível. Quando a música terminou, ainda ficamos ali na pista abraçados, sem perceber.
Na hora do retorno ao hotel na Van, o enólogo sentou-se ao meu lado e murmurou algo no meu ouvido, que não consegui entender.
O vinho dava voltas à minha cabeça e mexia com a sensibilidade. Ao entrarmos no hotel, antes de me dirigir ao quarto, ele disse que precisava de um aconselhamento especial. Eu não dei muita atenção e ele sumiu no corredor.
Mal havia tirado os sapatos e o casaco, toca o telefone e o recepcionista disse que ia passar uma ligação. Era ele, perguntando se poderia ensinar mais algum complemento sobre vinho e que para isso precisava ilustrar levando uma garrafa para o meu quarto.
Achei criativa a cantada e sutilmente concordei, pois disse que não poderia receber o diploma devidamente sem esses conhecimentos.
Chegou com balde de gelo e duas taças e nossos sorrisos estavam sem graça. Ao brindarmos e após o primeiro gole, ele ensaiou um ar professoral e fingiu fazer relatos. Sorriu em seguida, com todo encantamento, apoiou os copos na mesa e o melhor do vinho foi conhecido naquela noite sulina.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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