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Guardava ela a sete chaves o sonho de muitos. A sua usuária, da mesma forma, sabia que tinha um tesouro de valor inestimável, capaz de render um bom lucro, se fosse a leilão. Mas longe disso. Era pessoa de boa moral e acreditava que o presente estava predestinado a alguém que saberia fazer o melhor uso.
Enquanto isso não acontecia, a guardiã regozijava-se de seu prazer e da primazia de conviver tão diretamente com esse objeto de desejo, esperando que fosse retardado o quanto possível esse momento de afloramento.
Era egoísta, sim. Ela sabia, desde os primeiros tempos de convivência, que um dia não mais seria a única a conhecer e presenciar todos os movimentos e alterações que iam ocorrendo na sua dona. Mas fazia tudo por merecer tamanha preferência.
Suas formas eram quase sempre as mesmas, mas os estilos variavam para apresentar ares de conquista. Ela se apresentava de cores variadas, tecidos macios e ornados de rendas e fitas. As de cetim eram as mais festivas. Parecia que sua dona estava sempre preparada para aquele primeiro encontro do desconhecido.
Higiene era a palavra de ordem. Tanto que ela era trocada diariamente e, às vezes, até mais de uma por dia. Eram períodos críticos, em que o cuidado se fazia necessário. Isso dava a ela uma agradável sensação de conforto e ficava a imaginar que outras concorrentes não tivessem a mesma sorte.
Um dia, sua usuária parecia um pouco agitada. Ela não estava entendendo o que se passava e sentiu que alguma coisa se mexia e esfregava com força. Foi retirada sem nenhuma cerimônia, lançada ao longe de sopetão e acreditou que havia terminado o seu reinado que durava mais de vinte anos.
Somente foi lembrada horas depois. Ela percebeu que tudo havia mudado e que sua dona não era mais a mesma, a começar por sua conformação física. A virgindade ficara para trás, mas nem por isso sua função acabava. Passou a se acostumar a ter outras presenças frequentes no seu habitat e sentiu-se traída pelo resto da vida. Mas nem por isso deixou de proporcionar o aconchego íntimo que tanto gostava. Só ela podia permanecer tanto tempo com sua dona.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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