Leituras > Contos, Poesias e Pensamentos > Contos
Há anos que Verônica não fazia amor com seu marido. Uma vez por semana, pelo menos, ele a assediava, na hora de irem dormir, e ela não negava. Demorava alguns segundos, logo depois dele trepar sobre ela, para que seu espírito fosse buscar nas profundezas não sei de onde, personagens da sua fantasia.
Eram atores de cinema, das telenovelas. Um transeunte que naquela semana tinha lhe chamado atenção, um médico e um vizinho até. Todos voavam no seu subconsciente e naquele momento visitavam seu quarto escuro e encarnavam no corpo de seu marido. Era a única forma de Verônica conseguir sentir algum prazer, ou pelo menos, não sentir repúdio pelo marido.
Ele nem desconfiava o que passava pela cabeça da sua mulher, no momento pleno do gozo. Por sua vez, nas horas que aguardava para dormir e já ouvindo os roncos do marido, Verônica sentia-se tal qual uma prostituta, pois numa mesma relação conseguia estar com mais de um homem e vibrar de maneiras diferentes com cada um. Nem por isso, deixava de sentir, paradoxalmente, um privilégio de ter esse poder de imaginação fértil, pois somava inúmeras experiências.
Uma das vezes, o desprendimento foi tamanho, que Verônica gritou um nome no ouvido do marido, um daqueles seus personagens. Estavam no auge e não interromperam o ato. Na calma do leito, ele quis saber por que razão foi chamado o seu irmão, dividindo aquela cena a dois. Sem perceber o que havia acontecido, Verônica emudeceu. Criando coragem em seguida, revelou ao marido todos os seus desejos incontidos e avassaladores e assumiu que não saberia viver mais sem aqueles homens, nem sempre bonitos e conquistadores, mas que lhe davam plena satisfação.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
Portal SexSaúde© • 55 (13) 3284-9610 • eliana@sexsaude.com.br