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Saudades

 

Outro dia, enquanto parava diante de um semáforo e aguardava o sinal se abrir, olhei distraidamente para o lado e vi no ponto do ônibus um casal de jovens que brincava de namorar, fazendo algumas provocações um com o outro e atiçando o desejo. Muito tempo já se passara desses arroubos públicos, em que os beijos na rua eram atos normais da minha juventude. De qualquer forma, veio o arrepio e a saudade de outrora, demonstrando que estava muito viva. Não me dei conta que o verde surgiu e só acordei com as buzinas insistentes dos motoristas que queriam passar.

 

Coloquei-me em movimento, mas em pouca aceleração, pois queria continuar fora do ar e vivendo os momentos do passado. Engraçado, que me pus a pensar que haveria muita gente sem sequer ter a felicidade de ter fatos inesquecíveis para relembrar. Alguns, por outro lado, deveriam ter más lembranças. Mas não era meu caso.
Comecei a transbordar e, quem me visse, com aquele sorriso nos lábios maroto, não poderia imaginar em quais paragens eu me encontrava. Lógico que as cenas da memória selecionaram imagens remetidas a partir da cena dos namorados no ponto do ônibus. Depois de tanto tempo, como as marcas ainda estavam à flor da pele. Que delícia! Foi quase um gozo que saiu da mente e chegou no corpo com frenesi.


Era um dia de Natal. Meus pais estavam na casa de uma tia para o almoço comemorativo. Eu saira da praia com o eleito da época, meu primeiro amor verdadeiro. Fomos para a minha casa, para que eu tomasse banho e me arrumasse para depois ir ao encontro da família. Ele entrou e não houve resistência de ambas as partes. Dos beijos para os afagos foi um passo. Eu, jovem e virgem, há muito vinha ansiando por esse momento, aliás como é normal em todos os casais de namorados.


Minha consciência, no entanto, não foi perdida no seu todo e fiquei a espreitar as sensações, aproveitando cada avanço e movimento. Ele, mais experiente, comandava as ações. As coisas foram acontecendo, corpos despidos, descobertas do membro em ponto de bala, a libido no grau mais alto e no instante em que tudo se consagraria, veio o medo e a censura, coisas deixadas pela educação materna. O líquido correu quente pelas pernas e senti a vibração do homem em plenitude. Tudo era novidade e prazer, mesmo que para mim sem a concretização do ato completo.
Ficamos deitados, abraçados, vivendo aqueles instantes de parceria e de segredos divididos. Depois o almoço de Natal como um verdadeiro renascer, ou melhor, nascer para a vida mulher, das descobertas do outro, do prazer da doação, das sensações mais lindas e inimagináveis. Foi, sem dúvida, um belo começo, capaz de se eternizar pelo tempo e fazer voltar tudo de novo. Saudades plenas e gozosas!


Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"

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