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Triângulo Familiar

 

Mesmo nascendo em uma família da classe média, um rapaz mais velho entre três irmãos, desde cedo, demonstrou que sabia o que queria. Era diferente dos demais e driblava as dificuldades que apareciam no seu caminho, para não perder o foco. Queria mudar o rumo das coisas que seguiam o mesmo curso por longos anos. Além de ter inteligência acima da média e buscar nos estudos uma forma de atingir seus objetivos, tinha perspicácia e um discurso envolvente.


Beleza não tinha, mas nada que não pudesse ser superado. Já no curso universitário, procura as relações dos grupos dos mais afortunados e bem nascidos e passa a ser amigo íntimo de um filho de pequeno industrial. Passa a frequentar essa casa, bem diferente da sua simplicidade, mas não perde a pose. Percebe que naquele seio familiar há espaço para pôr em prática alguns de seus sonhos: uma mãe de uma beleza clássica e misteriosa e uma irmã, nada especial, mas que poderia ser o caminho.


A convivência fica estreita e ele vai se infiltrando, passando a ser considerado. Um convite para uma viagem à fazenda da família, dá início ao que ele já vinha arquitetando. Quando todos nadavam na piscina, eis que se aproxima da mãe do amigo e lhe oferece uma bebida, com ares de conquista. A jovem senhora aceita a gentileza e se descortina um interesse mútuo, que vinha há tempos sendo ensaiado. Com a aproximação do amigo, ficam interrompidas as tratativas.


No horário do almoço, ele aproveita a presença de toda a família para anunciar que gostaria de obter a permissão para namorar com a irmã. A mãe tem um calafrio, mas percebe a intenção do rapaz e parece aprovar a idéia. Está lançada a oportunidade que faltava para obter o status que queria, até um possível casamento com a moça. E uma forma de ficar próximo da mãe que, como homem, era ela que o interessava.


O encontro dos dois veio a acontecer em uma tarde, estrategicamente acertada, em uma casa de praia da família. Ambos estavam ansiosos e nervosos com a aventura que seria vivida. Frios e gulosos, jogaram-se um nos braços do outro e deixaram o mundo lá fora. Descobriram que gostavam de um amor fora do convencional e que ela tinha muito a ensinar. Comeram, comeram-se, devoraram-se de todas as formas e sem censura.


Esses encontros repetiram-se por várias vezes e nada despertava o conhecimento dos demais. Pelo menos uma vez por semana, viam-se para viver esse consumo de corpos e extravasar as suas libidos. Em paralelo, continuava com a sua proposta de chegar ao altar com a moça.


Quase um ano dessa paixão avassaladora, num fim de semana, em uma reunião na fazenda com vários amigos e convidados, ele nota que sua amante está indiferente e não lança a ele aqueles olhares disfarçados de cumplicidade. Acha que pode ser alguma indisposição e deixa para se preocupar depois com isso. No final da noite, vê de longe que sua amante observa um convidado a tocar piano e surge uma ponta de ciúmes.


Antes de dormir se aproxima dela, mas não consegue falar pela presença de terceiros. Na manhã seguinte, novamente não consegue concentrar o olhar na amante, pois ela desvia sempre. Quando tenta um contato telefônico no meio da semana para marcarem novo encontro, recebe uma negativa. Atento, em toda a sua sensibilidade, acha que alguma coisa mudou. Coloca-se à espreita nas imediações da casa e segue o carro da amante. Ela dirige-se à casa de praia e logo atrás chega o pianista.


Conhecendo como ninguém aquele espaço, ele entra pelos fundos e passa a observar os dois nos jogos de sedução iniciais. Lembra de tudo que viveu ali, o que aprendeu e, ao invés de ficar raivoso e enciumado, fica excitado e goza sozinho ao presenciar o ápice, gemendo e gritando como costumava fazer. Mas o casal fazia mais ruido e nada captou. Depois ele se recompôs e partiu.


No dia seguinte procurou a amante e contou o que havia ocorrido e confessou que seu prazer foi tamanho que estava propondo um encontro a três, se é que o seu novo parceiro aceitaria. Ela gostou da idéia e marcaram para acontecer como se fosse um acaso. Surpreendentemente, o rapaz era bisexual e foi o triângulo mais bem sucedido da história, ou melhor, um quarteto, pois ele continuava com seu namoro morno com a jovem pura e inocente. E já se preparava para assumir a posição de diretor financeiro da empresa do futuro sogro.


Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"

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