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Um Novo Despertar

 

O dia nascia como outro qualquer. Verônica acordou para esse novo tempo. Como sempre fazia, espreguiçou, situou seus pensamentos e deitou os olhos pela porta do terraço que ficara aberta. Essa claridade bateu sobre sua coleção de anjos que há pouco velavam seus sonhos. Eram muitos, coloridos, alegres e crianças. Sua paixão. Dirigiu uma prece ainda sonolenta a eles, pedindo proteção e sorte para aquele despertar.

 

Tudo começava bem e calmo e, ainda na cama, toma um susto com o toque do telefone, na manhã silenciosa. Ergue a mão até a extensão do aparelho no quarto e o alô sai com voz rouca. Do outro lado, a demora de segundos para a resposta e a repetição dela. Parecia que a chamada estava muda.

 

Quando pensava em desligar, um vozeirão indeciso transporta Verônica para um tempo do passado. Não seria possível, mas a identificação foi confirmada. Agora era ela que nada respondia e perdera o diálogo. Mas como, pergunta, como descobriu meu número depois de quase 20 anos? Ao que ele diz que eram coisas da internet e que, pesquisando num momento de saudades, apareceu aquele número e ele resolveu arriscar. Pediu desculpas pela hora e se haveria inconveniente de falar. Um não sabia do destino do outro, se havia compromissos com terceiros. Não havendo impedimento aparente, depois de algumas informações, ele revelou que estava na cidade dela e se poderia haver um encontro oportuno.

 

Sem ainda acreditar no que estava acontecendo, Verônica gaguejou um pouco, mas aceitou a aventura de ainda encontrá-lo naquele dia. Trocaram os celulares e ficaram de voltar a falar mais tarde. Fred tinha sido uma paixão madura e forte, mas impossível de ser continuada, devido a ser casado.

 

A primeira preocupação para ela era como iria encontrar aquele homem que tinha conseguido fazer dela uma mulher completa e, passados esses anos todos, o tempo poderia ser implacável. Por outro lado, ela também começou a questionar como ele a acharia - velha demais e fora dos padrões de beleza que tanto o entusiasmaram?

 

Bem, o jeito era experimentar o encontro. Retornou a ligação e marcaram um jantar. Ela passou o dia se preparando para o reencontro e escolhendo a melhor forma de se apresentar. No horário marcado, Fred chegou para pegá-la. Olhares trocados e examinados sob todos os aspectos. Ele gostou do que viu, mas Verônica nem tanto, pois ele estava bem envelhecido, gordo e sem cabelo.

 

A noite transcorria com o passando a limpo e atualização dos fatos e caminhos percorridos pelos dois e era impossível deixar de sentir tesão um pelo outro. Só de pegar na mão e a troca de olhares mais profundos deixavam ambos com desejos irrecusáveis. Fred deu a senha de irem a um motel e Verônica não hesitou.

 

A expectativa e a saudade eram tamanhas que queriam que tudo acontecesse rápido e de uma hora para outra. Ele, como sempre fora, estava carinhoso, solidário, mas não conseguiu a ereção desejada. Mais tarde novas tentativas e também não aconteceu.

 

Decepção dela e, muito mais dele, pela falta de desempenho. Na hora das despedidas, uma abertura para novo encontro.
Ao chegar a seu quarto repassou na mente tudo o que havia acontecido naquele dia e por minutos pensou que tudo fora inventado. Refletiu, procurou sondar seus sentimentos e não acreditava que coisas do passado pudessem voltar em intensidade e harmonia. A conjunção de vidas acontece em um único tempo e espaço e a retomada dificilmente será do mesmo jeito.

 

Naquele momento tomou a decisão de não mais procurá-lo ou mesmo não facilitar um novo encontro, só assim estaria se sentindo eternamente jovem e vivendo das imagens memoráveis de muita paixão, tesão, taras e loucuras

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Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"