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Lúcia tinha passado dos quarenta anos, mulher de médio desejo, mas que há muito estava sem relacionamento. Isso não a tirava do sério, nem a levava a subir pelas paredes. Ela encontrou uma maneira de ter prazer em outras atividades. Seu elo de amigas era farto e a renda, proporcionada pelo seu ex-marido, lhe dava condições de fazer algumas coisas das quais gostava, como aprender artesanato, ir à praia, assistir concertos, de fazer excursões pelo Brasil e, ultimamente, frequentar academias de dança de salão.
A felicidade via-se estampada em seu rosto. Tinha até ficado mais jovem com essa paixão pelas pistas de baile. Não era tanto pelos pares que lá, porventura, dividia o seu espaço. Aliás, tirando o professor, poucos eram os homens que iam desacompanhados para as aulas. O prazer era igual, dançando a dois ou sozinha, momento esse que mais se soltava e o ritmo levava-a a outros universos.
Lúcia era um dos casos de prazer fora do sexo, sensação tão antiga quanto a existência da humanidade. Ia levando a vida numa boa, separando a vida familiar dos seus compromissos pessoais. Uma das noites no curso sentiu a presença de um novo aluno, figura que ninguém conhecia. Ele já tinha alguma experiência de dançarino e, para testá-lo, o professor pediu que tirasse as moças. Apenas sabia dançar, pois de papo era uma tragédia.
Como o tempo de carência era grande, aquele pé de valsa deixou Lúcia com um entusiasmo a mais, coisa que há muito não sentia. O contato com o corpo aflorou o desejo em sua mente, levando-a a sonhar com cenas mais eróticas com o cavalheiro, por alguns dias seguidos. Ele, porém, não mais voltou.
A idéia fixa não lhe saía da cabeça. Depois de tanto resistir, entrou sorrateiramente em uma sex shop e adquiriu alguns apetrechos. Depois, escolheu um motel, telefonou reservando uma suíte e dirigiu-se para lá. A estranheza da recepção não a incomodou e ela entrou para uma curtição independente.
Espalhou os objetos sobre a cama, colocou o som nas alturas, tirou a roupa e dançou uma seleção com a liberdade que nunca tinha experimentado antes. Motel para ela era algo desconhecido e, mais uma vez, pode descobrir um novo prazer.
Colaboração: Eunice Tomé
Jornalista, Mestre em Comunicação e Escritora
autora do livro "Pequenos Contos de Viagem"
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