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Leituras > Fatos, Casos e Opiniões

 

À Flor da Pele

A Rotina e o Tempo
Dois elementos que se unem para lentamente desgastar um relacionamento que, em certo momento, foi bem próximo da perfeição. No princípio, era a construção subjetiva de um sonho, o planejar de uma vida a dois, o projeto da edificação de uma parceria com felicidade que se almejava eterna. O toque nesse momento estava sempre presente, fosse através do toque dos dedos e das mãos ou do toque dos lábios e das línguas, numa promessa de união, numa promessa do eterno, do imutável, do inseparável. O toque e os gestos, por serem agradáveis, procuram a repetição, mas a repetição leva à diminuição dos estímulos. Pode nunca se tornar aversivo, mas o prazer, numa imaginária escala, cai a níveis próximos ao basal, ao zero. A tendência geral é a simplificação direcionando os estímulos às regiões que, sabidamente por experiências anteriores ou pela observação pura e simples, despertam ou fazem surgir o prazer. A tendência é, pois, a simplificação e a objetividade. Se tal estímulo provocou, em algum momento, marcante resposta sensorial, por que não continuar a utilizá-lo? O pressuposto é que essa resposta sensorial irá sempre se repetir. Nós nos esquecemos que a repetição dos estímulos provoca uma diminuição da resposta. O tempo também pode diminuir naturalmente a resposta aos estímulos visuais de determinadas regiões do corpo que, pela sua simples imagem, despertavam gestos de carinho e que agora passam a ser menos eficazes.

 

Não se pode deixar que o tempo, a monotonia e a rotina transformem-se em sepulteiros das sensações e das emoções. Afeto está sempre relacionado a carinho e carinho quase sempre está ligado ao toque, ao contato da pele e das mucosas. No encontro de dois seres que se amam deve sempre estar presente o resgatar das emoções. Deve ser conservado o momento do encontro com o outro, do redescobrir o todo dentro das particularidades dos detalhes. Dentre as lições deixadas pelos pioneiros do estudo da sexualidade e da resposta sexual sobressaem, pela pureza e pela manifestação do afeto, o despertar ou re despertar das sensações. É o encontro de duas pessoas que se amam e que procuram restabelecer ou incrementar os laços afetivos. Não é um exercício; é uma prazerosa excursão pelo corpo um do outro, totalmente desvinculada da obrigatoriedade de um desempenho sexual pré-estabelecido pelas convenções, pela sociedade, pela cultura e até pelas próprias convicções pessoais dos chamados "deveres e obrigações". Nesse percorrer da superfície corporal, alcança-se a profundidade do afeto e das emoções sem procurar atingir as profundezas do corpo, dos genitais. É o re-cultivar a sensualidade geralmente esquecida pelo tempo e pela habituação, onde o contato terno e agradável se transformou numa ginástica sexual. Tocar alternadamente, um o corpo do outro, ora como doador de carinho, ora como receptor de afago, abre o canal de comunicação entre o casal permitindo, por meio de palavras, gestos, insinuações e até trejeitos indicar o tipo de carícias que provocam mais emoções e prazer. é a indispensável manutenção da comunicação entre o par, numa verdadeira aprendizagem ou redescoberta do dar e receber, do amar e ser amado. Esse momento de toque difuso corporal, para a mulher, significa uma verdadeira sinfonia de emoções. A mulher tem, em toda sua superfície corporal, milhares de receptores sensoriais com enorme potencial de desencadear a percepção do agradável, do prazer e do emergir da emoção. Por esse motivo, ela prefere as sensações das preliminares às próprias sensações das relações intravaginais. O homem, no seu aprendizado sexual, é direcionado mais para o estímulo genitalizado, um estímulo mais direto, de gratificação mais imediata. Nessa prazerosa pesquisa, o toque não está só no despertar do prazer táctil, mas está acompanhado de todos os demais estímulos sensoriais necessários à comunicação como a audição, visão, olfato, além da meiguice, da ternura e do afeto. A busca da sensualidade afasta a compulsão pela genitalidade, pela penetração e pelo orgasmo. O prazer interior está em dar prazer ao ser amado. Para muitas pessoas, é muito difícil ter prazer em dar prazer, pois estão acostumadas a procurar apenas seu próprio prazer; desconhecem quanto é agradável proporcionar, causar ou desencadear a agradável sensação do prazer corporal do par. Claro que as carícias genitais são agradáveis e devem ocorrer, mas elas devem fazer parte de um todo, não o objetivo direto do estímulo. Os gestos contidos nessa pesquisa sensorial abrem as portas para a sensualidade, para a maior comunicação entre os parceiros levando a uma oxigenação renovadora do relacionamento interpessoal e abrindo os horizontes para uma criatividade que nunca deve desaparecer.

 

O Resgate
Parando o presente, lembrando o passado e resgatando os gestos ativadores do prazer e regeneradores das emoções.

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