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No princípio era a Deusa, a criadora de todas as coisas. O símbolo da fertilidade e da proteção em todas as culturas primitivas. Era dom da mulher a mágica da criação da vida (procriação), sua manutenção como nutriz (amamentação) e proteção física expressa na ferocidade com que defendia sua prole. O inexplicável aparecimento do filho era atribuído apenas à mãe. Um dia, o homem descobre a sua importância na fecundação. A partir daí, seu falo transforma-se em símbolo do poder. A Deusa é substituída por um Deus masculino, caçador, empreendedor, agressivo e dominador.
No papel masculino aparece o domínio público com sua liderança histórica e seu impulso guerreiro. A mulher torna-se elemento de uma vida privada, sendo-lhe destinado criar a prole, desenvolver os trabalhos manuais e domésticos. Volta a mulher à caverna, ao lar.
Enquanto o homem domina, cria e inventa, a mulher executa, mas também, educa. A sociedade lhe cobra um papel secundário.
Reprime sua agressividade e iniciativa e desestimula seu crescimento intelectual. Com isso, a mulher desenvolve a subjetividade, a intuição, o sentimento de partilha, a solidariedade e a ternura. O domínio masculino, calcado no controle econômico e no poder político, subjuga a mulher, tolhendo seu desenvolvimento e cerceando parcialmente sua cultura. Não havia interesse em estimular sua intelectualidade. Passaram-se os séculos e a mulher continuou a exercer seu papel secundário na sociedade.
Tímida, porém firmemente, no final do século XIX e no século XX, através de movimentos sufragistas e, posteriormente, em consequência da I e II Guerras Mundiais, a mulher foi ocupando um espaço no mercado de trabalho. Inicialmente, exercendo funções consideradas adequadas para seu sexo (professora, datilógrafa, telefonista, por exemplo) e, posteriormente, alcançando todas as áreas e níveis. Era a mulher saindo da vida privada para a vida pública. O serviço doméstico começa a ser compartilhado com o homem. Este é um fato observável na nova mulher, a mulher da década de 80. Esse compartilhar com seu companheiro não está presente no relacionamento da mulher educada nas décadas de 60/70, a Mulher do Meio. Esta sofreu uma influência educacional, cultural e moral dessas décadas e agora é obrigada a conviver com a Mulher da Atualidade, a Mulher do Terceiro Milênio.
A Mulher do Meio se dedicou à criação dos filhos e à administração do lar, não se permitindo um crescimento cultural e profissional. Esse crescimento foi trocado por um sistema de vida, hoje em extinção, mas ainda com enorme poder influenciador. Essa mulher, fruto de uma educação sexual repressora, é obrigada a conviver com uma nova realidade, facilmente observável no comportamento sexual dos filhos e fartamente divulgada pela mídia. Algumas dessas mulheres até alcançaram independência econômica e autonomia, mas estão confusas com seu papel sexual. Vivem em busca de um equilíbrio ainda não alcançado. Carregam um sentimento de culpa por não cumprirem exclusivamente o que a educação recebida de suas mães determinou e lhe cobra (criar os filhos, cuidar do lar e do marido).
Outras, que não conseguiram esta independência, sofrem a pressão imposta pela atual sociedade e cultura, exigindo-lhes o exercício de uma atividade profissional, para qual não foram preparadas, e obrigando-as a possuir cultura condizente com o nível do marido e dos filhos. A essa Mulher do Meio, independente economicamente ou não, é exigido, pela sua educação, que adote uma postura sexual recatada, contrastando com uma atitude desinibida, e até ousada, comum no atual meio social. A não definição clara do que é ser mulher na sociedade moderna faz surgir, na Mulher do Meio, um sentimento de ambivalência, que se reflete no seu modo de sentir, pensar e agir, e que a obriga a rever seus antigos valores morais e sexuais, na tentativa de modificar a repressão vivida em muitos anos de história.
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