Orientação > Sexualidade nas Situações Especiais
Fechem os olhos e imaginem a silhueta de um ser humano. Preto sobre fundo branco. Se essa silhueta apresentar mamas delineadas, imediatamente a identificaremos como do sexo feminino. As mamas em nosso inconsciente simbolizam a mulher.Ser mulher, portanto, é ter mamas. Conceito inverídico, porém profundamente arraigado no psiquismo feminino. Que repercussão tem, então, a perda ou a ameaça da perda desse símbolo para a mulher? Variada, mas sempre dramática. Até recentemente, a cirurgia eletiva para a terapia do câncer de mama era pura e simplesmente a mastectomia - retirada total da mama afetada. Um dia, uma equipe de pesquisadores questionou, nos casos de tumores pequenos, se o resultado da retirada total da mama era o mesmo que o da retirada parcial.
As estatísticas mostraram que, em muitos casos, a retirada do tumor e do tecido mamário circundante tinha o mesmo efeito terapêutico que as extensas cirurgias. Em várias situações, é indiscutível a indicação da mastectomia total mas, em outras, uma cirurgia mais conservadora e menos agressiva tem a mesma eficácia. Esse tratamento mais conservador, contudo, necessita de um diagnóstico mais precoce do tumor. O auto-exame da mama durante o período pós-menstrual é um método de grande valia porque permite a identificação da moléstia num estágio no qual diferentes armas são eficazes para dirimir a doença; infelizmente ele ajuda a diagnosticar os tumores maiores, onde nem sempre é possível uma terapia mais conservadora. A mamografia ajuda a obter um diagnóstico mais precoce, aumentando a possibilidade de uma cirurgia menos extensa, mais conservadora e, portanto, causando menor impacto sobre a sexualidade da mulher do que as mastectomias radicais. Há uma tendência de indicação de cirurgias mais conservadoras para mulheres mais jovens ou solteiras. Isso retrata o preconceito do exercício da sexualidade em relação à idade.
Às vezes, a própria paciente é que opta por uma cirurgia mais radical esperando, com essa conduta, extirpar totalmente o mal. Nesses casos, é fundamental que o mastologista ofereça a ela informações e dados estatísticos para ajudá-la a fazer a escolha mais adequada, ressaltando que a imagem corporal da mulher que se submete a uma cirurgia mais conservadora é melhor do que a daquela que necessita de uma mais radical. Embora a retirada da mama não afete fisiologicamente, de modo direto a sexualidade, por ser ela um ícone cultural da feminilidade e um importante atrativo sexual das mulheres, afeta-as psicologicamente. Por esse motivo, a simples possibilidade de uma cirurgia nesse ícone representa uma ameaça à auto-estima feminina. Soa como uma possível destruição desse importante atrativo físico, podendo levar a um prejuízo da auto-estima, a uma sensação de impotência e a se constituir um risco maior para a depressão. Surge, a partir daí, a preocupação quanto à possibilidade de ser rejeitada e menos amada por seu parceiro; em sua fantasia, a mulher tornar-se-ia menos sensual em função do tratamento. É o medo da reação do outro.
O que muitas mulheres temem não é apenas a forma de rejeição ou aversão física, mas principalmente uma forma de rejeição que implica num rebaixamento inaceitável frente ao ente amado: a pena - uma forma de confirmação de sua fantasia de imperfeição. Em função da insegurança, a mulher tem uma necessidade muito grande da verbalização do parceiro quanto ao afeto dele em relação a ela. Após a mastectomia, geralmente ocorre uma diminuição da estimulação das mamas durante o ato sexual. Muitos homens evitam tocar a mama sadia, temendo que a parceira se lembre das perdas sofridas com a doença. Outras vezes, as próprias mulheres mastectomizadas é que preferem claramente evitar essa forma de estímulo sexual por motivos de segurança psicológica. A nudez feminina total durante o sexo é frequentemente evitada por evidenciar a existência de uma cicatriz. Essa atitude é denunciada pela mudança de posição durante o ato sexual; a mulher evita ficar por cima do homem, situação em que a exposição da região da mama que falta é mais direta. Independente da faixa etária ou do fato de a mulher ter ou não uma vida sexual ativa, o diagnóstico do câncer de mama causa um impacto profundo no psiquismo feminino. Algumas mulheres sobrevivem a esse impacto sofrido, elaborando mais adequadamente seus lutos, vencendo seus próprios temores e preconceitos, e recorrendo aos avanços da medicina no que diz respeito às próteses de silicone. Essas mulheres fazem dessa experiência uma oportunidade para rever seus valores, suas expectativas e para re-significar suas vidas.
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